Eu me mexo Sob as cobertas macias e aquecidas e abro os olhos para a escuridão que me envolve. As negras silhuetas que formam o meu quarto me observam, curiosas. Os pés quentes pedem pelo toque do chão frio. Eu miro o vazio teto azul enegrecido enquanto decido o que fazer.
O corpo pede por alento, pede por descanso; descanso pelo dia de subir e descer,e ir,e vir,e tarefas,e sapos,e risos. A mente, por outro lado, flui. Ou melhor, gira. Gira como a turbina de um reator,Como os mil e tantos cavalos furiosos de um motor, a 3000 rpm. Ela pulsa. Numa desordem caótica, alimentada pela força frenética de mil pensamentos acotovelando-se por todos os lados dentro do imenso espaço contido entre as diminutas órbitas do meu crânio. Quanto barulho! Mil águias peleando entre si, urrando para se fazerem ouvir. Metal que flui, e rui, e vibra e pulsa e plange. Loucamente, rotando de dentro pra fora.Num vibrar tão intenso que se torna insuportável.
Desisto.Levanto. E sob os protestos do resto do meu corpo, e o efeito da dopadrenalina descarregada pelo cérebro;como que numa espécie de suborno, eu me apresso em escrever esta merda desordenada enquanto o sol nasce sob a minha janela. Um dia longo se vai, e outro se vem. Eu sento sob a janela e aprecio o meu pulsar repentino, ao som do vibrar metálico da velha geladeira marrom-ferrugem que trabalha solitária na cozinha, acompanhada pelo toque implacável do velho relógio de parede, que tanto já me aprisionou dentro das vinte e quatro mediocridades da rotina.
Hoje, foi diferente.Hoje, por míseros sete minutos ou menos, eu abri asas. E caí. Hoje, eu esparramei/cuspi/jorrei/gozei minhas entranhas(ou miolos)(os quais eu quase não lembrava mais que tinha) num pedaço de papel(ainda que de pobre maneira).Hoje, eu pulsei. Hoje, eu vivi. Hoje, eu voei.