quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A adivinha

   O interior da tenda era rubro e escuro, repleto com vapores e fumaças que saíam do braseiro, Trazendo-me à memória várias lembranças de eventos passados. Deixando a minha cabeça leve, e um tanto sonolenta. O rosto dela estava coberto por um manto carmesim com franjas douradas, Mostrando apenas os profundos olhos cor de ametista, que brilhavam intensamente mesmo sob a luz fraca. As mãos pálidas estavam cruzadas sobre a mesa, cobertas de anéis e tatuagens pontilhadas, revelando muito pouco da pele fina e macia que as formava.
   -Veio saber sobre o seu destino, criança? A voz dela era doce, mas se arrastava pesadamente nas palavras, como o canto de um pássaro velho. atrasado pela idade.
-Depende, disse eu. –O que eu verei?
-Eu não arriscaria um palpite. Alguns acreditam que o destino é como uma trama, onde o fio da sina de um se entrelaça entre as sinas de muitos, e cada um se puxa e se estica, tecendo o rumo do mundo. Outros, o vêem como uma tempestade de areia, onde os grãos são levados sem vontade pelo vento, esbarrando-se ao bel prazer desse guia caótico que nos leva a todos. Eu diria que o destino age de ambas as formas, e de muitas outras. O modo como ele age não é algo que entendemos, nem que mereçamos entender. Mas eu creio que não seja essa a questão a se responder.
-E qual seria a questão então? O riso dela revelou descaso.

-Veja bem. Reis, mendigos, guerreiros, sacerdotes, não importa quem sejam. Nenhum de nós é diferente para o pai tempo. Somos todos apenas uma pequena fração do destino. Nossas vidas passam no bater de asas de uma mariposa. Somos breves, curtos, efêmeros. Mas mesmo nesse bater de assas, mesmo o menor dos homens pode mudar o destino de muitos. Nada é certo com o futuro, nada é válido para o passado. Mas uma pequena pedra que rola do topo da montanha provoca uma avalanche aterradora na sua base. A pergunta não é o fim do caminho, nem o seu começo, nem mesmo o porquê de se caminhar de fato. Essas são perguntas que não possuem resposta. A pergunta de fato, criança. É pelo que vale a pena caminhar.