O interior da tenda
era rubro e escuro, repleto com vapores e fumaças que saíam do braseiro,
Trazendo-me à memória várias lembranças de eventos passados. Deixando a minha
cabeça leve, e um tanto sonolenta. O rosto dela estava coberto por um manto
carmesim com franjas douradas, Mostrando apenas os profundos olhos cor de
ametista, que brilhavam intensamente mesmo sob a luz fraca. As mãos pálidas
estavam cruzadas sobre a mesa, cobertas de anéis e tatuagens pontilhadas,
revelando muito pouco da pele fina e macia que as formava.
-Veio saber sobre o
seu destino, criança? A voz dela era doce, mas se arrastava pesadamente nas
palavras, como o canto de um pássaro velho. atrasado pela idade.
-Depende, disse eu. –O que eu verei?
-Eu não arriscaria um palpite. Alguns acreditam que o
destino é como uma trama, onde o fio da sina de um se entrelaça entre as sinas
de muitos, e cada um se puxa e se estica, tecendo o rumo do mundo. Outros, o
vêem como uma tempestade de areia, onde os grãos são levados sem vontade pelo
vento, esbarrando-se ao bel prazer desse guia caótico que nos leva a todos. Eu
diria que o destino age de ambas as formas, e de muitas outras. O modo como ele
age não é algo que entendemos, nem que mereçamos entender. Mas eu creio que não
seja essa a questão a se responder.
-E qual seria a questão então? O riso dela revelou descaso.
-Veja bem. Reis, mendigos, guerreiros, sacerdotes, não
importa quem sejam. Nenhum de nós é diferente para o pai tempo. Somos todos
apenas uma pequena fração do destino. Nossas vidas passam no bater de asas de
uma mariposa. Somos breves, curtos, efêmeros. Mas mesmo nesse bater de assas,
mesmo o menor dos homens pode mudar o destino de muitos. Nada é certo com o
futuro, nada é válido para o passado. Mas uma pequena pedra que rola do topo da
montanha provoca uma avalanche aterradora na sua base. A pergunta não é o fim
do caminho, nem o seu começo, nem mesmo o porquê de se caminhar de fato. Essas
são perguntas que não possuem resposta. A pergunta de fato, criança. É pelo que
vale a pena caminhar.