domingo, 29 de novembro de 2015

Atlas

... E ele desceu o peso sobre as minhas costas. O primeiro reflexo foi o de morte. Senti aquele mundo de gravidade esmagando as minhas fibras e envergando meu corpo para baixo. E veio o medo. Eu olhei para o chão escuro pela sombra do fardo sobre mim, enquanto o suor escorria em lágrimas através da minha face. Meus braços tremiam, com o ácido lático digerindo-os por dentro enquanto a minha face ia cada vez mais de encontro à terra escura sob as minhas sandálias. O medo tomava face naquele chão. O medo que esmagava mais do que a bola de pedra e metal que envergava a minha coluna. "Não vou conseguir" penso eu. As escolhas são claras. Ou solto a carga, ou caio esmagado. Vencido. Partido. As pernas fraquejam. Tremem, bambas como gravetos de bambu, prontos a se quebrarem. O coração pulsa, nervosamente lutando para bombear o ar que não chega a tempo nos pulmões.o ar ausente dá lugar ao pesar crescente de me ver soterrado. O joelho toca a terra áspera e grossa. Paro, em pânico. O medo no meu estômago é como uma larva cheia de espinhos, e os meus ouvidos falham diante do desespero. Não ouço nada. Nem um som.
   Fecho os olhos. “vou morrer," penso eu. É o fim agora. E no meio daquele vazio eu ouço a voz no meu ouvido. A voz do velho e suas lições há tanto esquecidas.  
   "O mundo não é suave, rapazes. Então eu os estou ensinando a também não o ser". Dizia ele enquanto  corríamos até a exaustão sob o sol quente de primavera. EM verdade eu vos digo, é no momento de maior fraqueza que a verdadeira força se revela. O fundo do poço é o lugar mais claro do mundo. Pois no meio da escuridão, o único lugar para olhar(e seguir) é  para cima. Quando tudo o mais falhar, quando vós achares que a vossa força estiver no fim. Lembrai-vos do que for que vos move. Daquilo que realmente amam. Pois a força não vem dos músculos. A força vem Do criador. Vem da nossa mente, e nossa conexão com ele. Nas horas escuras, Tende fé em quem sois e no que fazeis. Lembrais e encontrareis forças onde antes havia fraqueza. Encontrareis força que nem sabias que tinham, Pois a fé é o que mantém o homem de pé, mais do que os ossos sob a pele.
     SABEI QUE PODES, E PODEREIS!

   Eu olho para o chão escuro, e vejo o sangue claro escorrer do joelho esmagado. Dói, mas agora, eu havia conseguido um bom apoio. De mente limpa, as coisas se tornam simples. Soltar ou ser esmagado. Penso eu.  Livre da dúvida, porém, eu sinto algo em mim. Algo maior que o peso, algo maior que a dor. Vou ficar com a terceira opção. As pernas ardem, gritam, queimam, mas queimam firmes. As costas arqueadas dobram, quase até o limite. Mas não quebram. Os braços fumegantes se erguem quase esmagados, mas não são. E do fundo do poço, eu olho pra cima, e me ergo,e ergo todo o peso e a dúvida, agora  tão menores do que eu. Eu me torno o bastião Diante do qual quebram-se milhares de guerreiros. eu me torno a luz para afastar as trevas. Eu levanto aquilo que iria me esmagar!

                                                                                                     PORQUE EU POSSO FAZER!