quinta-feira, 13 de março de 2014

Ambush

   E em meio às sombras ele estava esperando. As mandíbulas travadas pela ansiedade. Os músculos se retesavam em resposta aos pequenos ruídos que permeavam o ambiente. ”faz tempo” pensava. Muito tempo. A ansiedade dentro de si crescia conforme as horas passavam. O coração pulsava, num dolorido descompassado, que contrastava com o vácuo na boca do estômago. Fazendo-o sentir-se quase que em uma queda livre. Estava tudo ali. Tudo pronto. Cabia apenas ter paciência. Que árdua tarefa; Todo ele parecia estar prestes a rebentar-se para deixar escapar essa urgência que quase não mais lhe cabia dentro. Até que por fim, a Agonia se foi.
  O som de passos se assomou ao ambiente, seguido por uma leve sombra denunciava a chegada de seu dono. Vindo tão imprudentemente através da passagem de pedra que delimitava o beco, perfume e conhaque baratos invadiram suas narinas, trazendo atrás de si suor, saliva, e sangue. Os membros tremeram. ”Agora é só mais um segundo”. A figura cinzenta e mal equilibrada entrou pelo beco, envolta em um velho paletó surrado. Sapatos de couro e solas duras denunciavam-lhe a posição. Andava devagar, com passos incertos. “Bêbado.” Ele pensou. Como a sombra que era, deu dois passos silenciosos para a direita, pela estreita grade de metal presa sobre a abertura do arco. E em meio a toda a excitação, saltou.
  O vento frio lambeu-lhe o rosto. As mãos caíram-lhe sobre os ombros, direcionando todo o peso para baixo. Acabara-se ali. O resto era diversão.Pouso sobre o monte de carne mole e incerta, que pousou sobre o chão duro e firme. Quebrara-lhe uma ou duas costelas; “Que som delicioso”. Ele pôde sentir os ossos romperem-se sob suas pernas. O Grito; abordado por uma firme mão sobre a boca e o rosto, saiu apenas como um sopro quente de baba sob seus dedos.
  A faca penetrou macia, sob as camadas de tecido, pele, e músculos atordoados. O sangue brotou como uma rosa na camisa de linho suave que havia por baixo do paletó, e espirrou quente em sua face ao remover a faca do lugar. O chão, as pernas, as costelas quebradas. Tudo era brilhantemente, intensamente, maravilhosamente rubro. A vítima se torcia e estrebuchava inutilmente sob seus pés. Seguiu-se outro golpe. E outro,e mais outro. O sangue em seus braços era mais quente e acalentador que qualquer mulher que já tivera na vida. Os ossos, e músculos, e pele, e órgãos, esfacelados. ”Oh, glorioso!”.
“Morreu”. Ele olhou pra cima, e contemplou a noite nublada. A lua e as poucas estrelas que se deixavam ver por entre o véu de nuvens escuras, suas testemunhas. Nada para descrever, além de êxtase. ”Hora de procurar outro.” Ele moveu-se elegantemente pela viela escura, e subiu a parede de quatro metros de altura que havia no fim do beco. Sobre a divisa do muro, ele observou uma pequena figura de vestido anil atravessar a rua com passos apressados. O vento que passava por ali lhe trouxe um cheiro familiar. ”Medo.” Ele desceu calmamente pela parede, para se posicionar sob os arbustos próximos do caminho para o próximo poste de luz. As primeiras necessidades haviam sido satisfeitas. Sem urgência, ele esperou com um sorriso no rosto, sangue na faca, e um punhado de ideias sobre como extrair mais prazer da próxima caçada.

   “E a noite está apenas começando...”