E em meio às
sombras ele estava esperando. As mandíbulas travadas pela ansiedade. Os
músculos se retesavam em resposta aos pequenos ruídos que permeavam o ambiente.
”faz tempo” pensava. Muito tempo. A ansiedade dentro de si crescia conforme as horas passavam. O coração pulsava, num dolorido descompassado, que contrastava
com o vácuo na boca do estômago. Fazendo-o sentir-se quase que em uma queda
livre. Estava tudo ali. Tudo pronto. Cabia apenas ter paciência. Que árdua
tarefa; Todo ele parecia estar prestes a rebentar-se para deixar escapar essa urgência
que quase não mais lhe cabia dentro. Até que por fim, a Agonia se foi.
O som de passos se
assomou ao ambiente, seguido por uma leve sombra denunciava a chegada de seu
dono. Vindo tão imprudentemente através da passagem de pedra que delimitava o beco,
perfume e conhaque baratos invadiram suas narinas, trazendo atrás de si suor,
saliva, e sangue. Os membros tremeram. ”Agora é só mais um segundo”. A figura
cinzenta e mal equilibrada entrou pelo beco, envolta em um velho paletó
surrado. Sapatos de couro e solas duras denunciavam-lhe a posição. Andava
devagar, com passos incertos. “Bêbado.” Ele pensou. Como a sombra que era, deu dois
passos silenciosos para a direita, pela estreita grade de metal presa sobre a
abertura do arco. E em meio a toda a excitação, saltou.
O vento frio
lambeu-lhe o rosto. As mãos caíram-lhe sobre os ombros, direcionando todo o
peso para baixo. Acabara-se ali. O resto era diversão.Pouso sobre o monte de carne
mole e incerta, que pousou sobre o chão duro e firme. Quebrara-lhe uma ou duas costelas;
“Que som delicioso”. Ele pôde sentir os ossos romperem-se sob suas pernas. O
Grito; abordado por uma firme mão sobre a boca e o rosto, saiu apenas como um
sopro quente de baba sob seus dedos.
A faca penetrou
macia, sob as camadas de tecido, pele, e músculos atordoados. O sangue brotou como uma
rosa na camisa de linho suave que havia por baixo do paletó, e espirrou quente
em sua face ao remover a faca do lugar. O chão, as pernas, as costelas quebradas. Tudo era
brilhantemente, intensamente, maravilhosamente rubro. A vítima se torcia e
estrebuchava inutilmente sob seus pés. Seguiu-se outro golpe. E outro,e mais outro.
O sangue em seus braços era mais quente e acalentador que qualquer mulher que já tivera na vida. Os
ossos, e músculos, e pele, e órgãos, esfacelados. ”Oh, glorioso!”.
“Morreu”. Ele olhou pra cima, e contemplou a noite nublada. A
lua e as poucas estrelas que se deixavam ver por entre o véu de nuvens escuras,
suas testemunhas. Nada para descrever, além de êxtase. ”Hora de procurar outro.”
Ele moveu-se elegantemente pela viela escura, e subiu a parede de quatro metros
de altura que havia no fim do beco. Sobre a divisa do muro, ele observou uma
pequena figura de vestido anil atravessar a rua com passos apressados. O vento
que passava por ali lhe trouxe um cheiro familiar. ”Medo.” Ele desceu
calmamente pela parede, para se posicionar sob os arbustos próximos do caminho
para o próximo poste de luz. As primeiras necessidades haviam sido satisfeitas.
Sem urgência, ele esperou com um sorriso no rosto, sangue na faca, e um punhado
de ideias sobre como extrair mais prazer da próxima caçada.
“E a noite está
apenas começando...”
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