sábado, 18 de outubro de 2014

Untitled 03

  A brisa fria da noite passou pelos seus braços, como que querendo agarrá-la. Os braços foram instintivamente em volta dos ombros, ao que se repreendeu mentalmente por isso. “Não há necessidade para isso agora...”. O coração palpitava-lhe dentro das costelas, como um pássaro que lutava para se libertar de sua gaiola. “Interessante como a nossa percepção se aguça a essas horas apertadas” pensou ela. Interessante como o mundo parecia tão mais nítido exatamente naquele momento. Talvez fosse o seu corpo, tentando dissuadi-la, distraí-la para que mudasse de ideia. Interessante. “Será que as células do meu corpo sabem o que se passa também? Será que elas também têm medo? O mesmo medo que eu sinto?”
  O medo; esse velho companheiro, era quem havia regido a sua vida toda. Medo da dor; Não da sua, claro. Pois ela achava que essa, era mais do que merecida. Preço justo pelo incômodo de sua existência. Mas medo de causar dor aos outros. Medo do Mundo; Esta nau caótica de loucos insensatos que se talhavam uns aos outros, e se matavam, e se comiam, e se mordiam, e se julgavam todos os dias. Medo se si, e do seu futuro. Medo de não saber o que seria de si, e do que teria que fazer pela frente.

  Ela ergueu-se para o vento frio que vagueava pelo espaço aberto, e primeiro olhou para cima. A lua escondia-se por trás de uma nuvem “Ela não quer que eu a veja”, pensou. A lágrima correu quente pela bochecha direita. Não podia fazer mais nada. Não havia como seguir assim. Doía-lhe tanto... Ela passou as pernas pela grade, e olhou para baixo. A rua estava vazia. Ela soltou calmamente as mãos, dedo por dedo, até que tudo o que lhe sustentava acima da sacada fossem os 5 centímetros de piso abaixo dos seus pés. Com um último arfar, e uma lágrima já atrasada descendo pelo lado esquerdo, ela se inclinou para frente, e caiu. O vento deslizava lhe pelos braços abertos como um fino tecido, como que tentando segurá-la. O medo se fora. Não havia muito para se fazer agora. De olhos fechados, ela foi de encontro ao chão que corria para abraçá-la, e caiu na calçada.