A brisa fria da
noite passou pelos seus braços, como que querendo agarrá-la. Os braços foram
instintivamente em volta dos ombros, ao que se repreendeu mentalmente por isso.
“Não há necessidade para isso agora...”. O coração palpitava-lhe dentro
das costelas, como um pássaro que lutava para se libertar de sua gaiola.
“Interessante como a nossa percepção se aguça a essas horas apertadas” pensou
ela. Interessante como o mundo parecia tão mais nítido exatamente naquele
momento. Talvez fosse o seu corpo, tentando dissuadi-la, distraí-la para que
mudasse de ideia. Interessante. “Será que as células do meu corpo sabem o que
se passa também? Será que elas também têm medo? O mesmo medo que eu sinto?”
O medo; esse velho
companheiro, era quem havia regido a sua vida toda. Medo da dor; Não da sua,
claro. Pois ela achava que essa, era mais do que merecida. Preço justo pelo
incômodo de sua existência. Mas medo de causar dor aos outros. Medo do Mundo;
Esta nau caótica de loucos insensatos que se talhavam uns aos outros, e se
matavam, e se comiam, e se mordiam, e se julgavam todos os dias. Medo se si, e
do seu futuro. Medo de não saber o que seria de si, e do que teria que fazer
pela frente.
Ela ergueu-se para o
vento frio que vagueava pelo espaço aberto, e primeiro olhou para cima. A lua
escondia-se por trás de uma nuvem “Ela não quer que eu a veja”, pensou. A
lágrima correu quente pela bochecha direita. Não podia fazer mais nada. Não
havia como seguir assim. Doía-lhe tanto... Ela passou as pernas pela grade, e olhou
para baixo. A rua estava vazia. Ela soltou calmamente as mãos, dedo por dedo,
até que tudo o que lhe sustentava acima da sacada fossem os 5 centímetros de
piso abaixo dos seus pés. Com um último arfar, e uma lágrima já atrasada
descendo pelo lado esquerdo, ela se inclinou para frente, e caiu. O vento
deslizava lhe pelos braços abertos como um fino tecido, como que tentando
segurá-la. O medo se fora. Não havia muito para se fazer agora. De olhos
fechados, ela foi de encontro ao chão que corria para abraçá-la, e caiu na
calçada.
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