OS olhos. Tudo começa pelos
olhos. O choque de dois pares se sóis, a contemplar-se. Plenos castanhos
espelhados um no outro, a bailarem na transmissão de pensamentos. Mergulhar
entre os poços tintos e profundos, que nos tragam fundo adentro. E sentir o calor
e vividez pulsante, que silenciosamente nos grita: vem.
E puxar, e empurrar. E ser
puxado e empurrado. E pressionar, e ser pressionado. E ver, tocar, ouvir,
cheirar, sentir. E ser visto, e tocado, e ouvido, e cheirado. Ser sentido. E
ser tudo rubro. E róseo. E cóbreo. E tinto. Dançar pelas paredes, e sentir a alma
através da carne. Soltar as mãos, e atravessar as camadas. As vestes. O pelo. A
pele. A carne. Cravar as unhas e sentir o rubro ocre correr pelas garras. Pelos
dedos, pelas costas, Pela língua. E aspirar o ar lotado de sussurros e gemidos,
e aquecer-se entre a pele pálida, mas ainda assim tão cálida. E já nem saber
mais o que se é e o que não.
Deitar-se para o lado. Na
ausência lânguida de movimento, entorpecidos. Olhar os olhos, cansados. E
entregar-se ao abraço lento. E ao ditar do respirar profundo. Sentir os olhos,
que se olham; mesmo sob as pálpebras fechadas. E as almas, que se agarram, por
medo de se desgarrar, enquanto os corpos, exauridos e mal acabados, jazem
largados, na imensidão do quarto vazio. Ouvir o som. Do ar pesado, entrando arrastado,
pelo nariz arrebitado, do rosto de cada um.
Cair no sono. Para sonhar acordado, sentir-se extasiado. Por que se ama,
e se é amado. Por esta que está ao meu lado, com desejo sentimento e vontade.
Segue o amor entalhado, no coração de cada um.
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