sábado, 13 de agosto de 2011

breathe


Desculpe-me por ser apenas o que sou e não o que você esperava.
Desculpe-me por não ser visceral, profundo e amargo.
Desculpe-me por não beber, fumar,
Desculpe-me por me desculpar tanto, por ser tão suave, por não querer ou poder acompanhar você nas suas aventuras e loucuras.
Desculpe-me por ser chato, entediante, superficial.
Desculpe-me por ter cálculos na cabeça ao invés de poemas.
Desculpe-me por não estimular você a continuar.
Eu espero que você encontre um cara que seja durão, que viva com você a vida louca que você espera que não ligue pra compromisso sério, que seja louco, que beba que fume que já tenha lido pulp, que estimule você a continuar, e que fale e faça o que você espera que ele fale e faça.
Eu desejo que você seja feliz, e que não viva uma vida chata como a minha.
Eu agradeço o tempo que passamos juntos, e com as coisas que você me mostrou.
Eu vou continuar respirando.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

untitled

     Assim que a porta do porão se fechou e seus olhos começaram a se acostumar com a súbita escuridão que os invadira, ele a viu. Pouco mais de dois metros à sua frente, Misha estava sentada em uma velha cadeira de balanço, enquanto observava um antigo e desbotado livro de figuras. Suas mãos pequenas e magras, folheavam delicadamente as páginas sob a luz de um toco de vela. Ela estava descalça. Usava um vestido que aparentava, um dia, ter sido azul, e um chale branco que cobria sua cabeça deixando escapar alguns cachos; que eram tão negros quanto seus grandes olhos.
     Ela levantou seu rosto pálido e lançou-lhe um olhar curioso, porém levemente amedrontado. Sem desviar os olhos, ela fechou o livro e o pôs de lado na cadeira, para depois levantar-se, e lentamente, ir em sua direção.A tensão e a desconfiança evidentes nos olhos daquela criança eram algo que ele imaginava encontrar. Mas a compreensão que Misha apresentava da situação era uma surpresa para ele. Misha estendeu a mão e pegou um dos biscoitos do prato. Apesar da fome que ele sabia que a afligia, ele a viu murmurar uma pequena oração em agradecimento ao alimento, e pôr-se a mastigar o biscoito vagarosamente, enquanto esboçava um tímido sorriso de gratidão.
     A visão daquela garota fraca, suja e desnutrida; escondida naquele porão igualmente miserável, o fez pensar no quanto essa guerra era realmente errada. Em quantas atrocidades podiam ser realizadas devido a meros caprichos de um mal homem com uma boa patente, e em como em um mesmo país podiam haver tantas mentes fracas a ponto de se deixarem acreditar que aquela criança era um mal que devia ser expurgado.

birds


     “Que olhos grandes você tem”, pensou o garoto. Ela não era um lobo. Ela era uma coruja; que de penas róseas o mirava de longe, com um olhar de: “te intimido garoto?” e o garoto lhe devolvia com um olhar de “te conheço coruja?” ele a mirava curioso, enquanto ela voava próxima a ele. Penas finas, um bico francês, e olhos de conchas; grandes e redondos, com desenhos que ele não vira em outros pássaros que já havia mirado por aí. Desenhos de bocas, e bicos, e presas de javalis, como que escritos em construções octogonais, feitos para tapar os terrenos baldios do centro, onde a coruja costumava caçar.
Indo e voltando, ela intrigava o garoto; que desejava voar perto dela, mas ele não tinha asas(ou pelo menos assim ele pensava). “ela nunca vai querer descer” pensava o garoto. Ele tentou atraí-la com um assobio. Desajeitado. A coruja divertiu-se, e empoleirou-se no banco da frente. Galhofava o assobio do garoto que ficava sem jeito, mas gostava, pois de um jeito ou de outro,fez com que ela pousasse  ali  perto.
Das madrugadas aos dias, ele passava com ela. Caçavam, voavam, e cantavam juntos. O garoto pensava em engaiolar a coruja, mas falcoaria não se faz com esse tipo de ave. Ela ia e vinha quando queria, voava alto, e beliscava-lhe o dedo, quando este falava em gaiola. Ele não entendia, pois nunca soubera o que era realmente uma gaiola. Nunca o haviam engaiolado antes. Não sabia o que fazer; Não queria deixar a coruja. Gostava de voar com ela. Acostumara-se ao ar e chão parecia-lhe estranho agora. Seu medo assustou a coruja, que bufou e eriçou as penas, e voou para longe. Em meio às lamentações, um corvo, esguio e longo, apontou-lhe uma direção, depois de bebericar da sua internet. (como todo bom corvo, só ajuda quando é ajudado). Disse-lhe ele: não se voa com gaiola, elas são muito pesadas. Tu que não gostas mais do chão, por que queres arrastá-la para cá, ela que aqui nunca esteve?
   _Que hei de fazer então? Disse o garoto.
   _Ao invés de trazê-la para baixo, por que não te elevas tu? Disse o corvo                          
   _Não sei como. Disse o garoto.                                                                                         
  _E que engineer de merda és tu? Crocitou o corvo.  Que não sabes resolver um problema simples como esse? Faze como Ícaro. Se não te encontras à altura, eleva-te até ela!
E de cada pena que a coruja derrubou enquanto estava com o garoto, as quais ele guardou todas, ele reuniu e calculou um par de asas para si próprio. E agora ele voa por si só; ou pelo menos ensaia. Tomando a coruja de exemplo, ele agora procura o vento em volta de si, ao invés de buscá-lo nas asas de outros.