Sempre fui um homem de muitas manias. Isso é fato. Algumas mais graves, outras mais serenas, algumas às quais eu teimo (tenho a mania) em achar uma certa simpatia, tal qual a uma criança que faz arte e a gente não consegue dar bronca, por ele ser "assim mesmo". Algumas manias minhas, eu comecei pegando emprestadas de outros e outras, que por tamanha afinidade, vão deixando um pedaço deles com a gente,e levando um pedaço da gente com eles, e no fim, você nem sabe mais o que é seu e o que não é.Pois que no final acaba sendo tudo seu mesmo. Uma das que eu gosto mais, é a mania de sorrir e tempo integral. Dessa, eu me orgulho muito, e exponho no centro da minha estante.Muito minha, desde sempre.Me perguntaram uma vez, qual o motivo de "sorrir pra todo mundo".Eu perdoei o pobre coitado, ele não entendia, eu não sorrio pra todo mundo. eu sorrio pra mim mesmo. Você só pega o reflexo disso.
Deixando agora as boas de lado, uma que me zanga muito, é essa de esquecer, e não esquecer. Fonte de muitos males meus. Lembro dos que me esquecem.Lembro-me de coisas que daria tudo pra enterrar. Lembro-me como se fosse hoje,como se fosse agora, como se fosse. E o que deveria lembrar eu esqueço. E isso dói. Dói porque esqueço o que( e quem) sempre se lembra pra mim, e dói também neles, e dói mais ainda em mim, por saber que que doeu neles, e que eu fui a causa dessa dor. Esqueço daquilo que urge, e faço o que tem folga. Esqueço de cuidar de mim, e cuido dos outros. Esqueço de cuidar do outros, e não cuido de ninguém,e as vezes esqueço de não cuidar de ninguém, e vou dar pitaco na vida dos outros.
Não bastava terem aparecido os problemas. Eu os alimentei, e levei pra passear, e agora fico reclamando quando eles me mordem. Bem, minha mania de reclamar não é uma das minhas favoritas, mas infelizmente é minha.E muito minha, diga-se de passagem.Tenho que lembrar de qualquer hora dessas, fazer uma limpeza na minha estante de manias. Ver o que tem pra jogar fora, e o que dá pra deixar no lugar. E a quem quiser uma mania nova, pode vir falar comigo. Qualquer coisa a gente troca, se você tiver um hábito que for do meu agrado.
O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo
domingo, 30 de setembro de 2012
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
A frágil espécie
Carrego comigo a essência das feras, um perfume
entranhado, uma seiva, e por vezes, me atiro sobre a presa. Eis o crime, a
fúria, o atrevimento. O lobo em mim, a hora do desespero, a violenta
necessidade de sobrevivência que irmana toda a criação. Sou um mamífero de rapina:
garra, dente, e bote. Mas não trago a identidade verdadeira da arribação, e não
me é fácil deixa o campo de caça, a quadra onde sei viver. Dito de outro modo,
não corto os laços com o covil. Se é imperioso viajar, lanço mão de mochilas
grandes, com muitas roupas e livros, postiça sensação de que levo a toca junto.
Mais do que tudo, não deixo o sotaque original, testemunho e garantia de vir de
um lugar, ser cria do meu rincão, e não de qualquer outro. Claro que vejo as
outras coisas, tenho curiosidades, convivo com diferenças, e tudo isso é nada,
porque força alguma arranca a raiz se ela é profunda, a base é sólida e o chão
nativo é uma certeza. Assim, não dou beira a frivolidades, maquiagens, e
novidadeirices: quero saber de força e firmeza, amparo e afeto, valor e verdade.
Amenidades não saciam a ânsia que a custo refreamos. Está certo que chegamos
até aqui, criamos o verniz, a capa de polidez, o bom-tom. Além disso, os
anciãos da tribo afirmam que o hábito é uma segunda natureza. Pode ser. Pode
até ser: os costumes civilizados fazem a existência possível e confortável. Mas
nos mais genuínos dos nossos o adestramento não consegue ser perfeito e, firme
na espreita, o bicho faminto guarda na língua a sabedoria dos nutrientes inequívocos.
E vamos dizer de uma vez que os baixos teores são desprezíveis pra quem vive de
abocanhar carne e sangue e, debaixo de véus de elegância, preserva o paladar
selvagem. Se é assim, na destreza da camuflagem vai a certeza de que a linhagem
não degenera.
Liturgia do sangue-ReNato Bittencourt Gomes
Liturgia do sangue-ReNato Bittencourt Gomes
sábado, 1 de setembro de 2012
Anima Sola
Ali,
aguardando para ser apontada julgada e condenada purgando em dúvida seus
pecados ardendo, mas nunca consumida, a alma solitária, mesmo em meio à
multidão, vaga pela cidade que pulsa caoticamente em cada um de seus pavimentos
cinzentos, vagueia com suas botas de solas esburacadas de tanto seguir rumo a
lugar nenhum, passa pela juventude que entoa seus hinos monotônicos da geração
dessa semana, com seus cabelos iguais e celulares de última geração. Vagueia e
vê as pessoas que passam e a abandonam e se abandonam aos poucos em parcelas do
seu cartão de crédito de limite estourado pelos vestidos de festa, da festa que
acabou com a cinderela de ideais estuprados, maquiagem borrada e pés doloridos
em sapatos que não eram de cristal, deixam cacos para trás para se tornar um,
para caber na forma, espremem-se torcem-se para entrar no molde de metal para
não lidar com os cacos de si, cacos que cortam e deixam escapar o sangue rubro
, talvez não sangrem, afinal sangrar é tão demodê. Passam apressados e apáticos
à brisa com cheiro de mar a beija no rosto e bagunça os cabelos, não sentem não
veem. São partículas que dão à cidade maquinal e cinza a impressão de pulsar,
mas não pulsam mais. Os velhos não têm mais olhos sábios, o jovem não tem os
rostos rosados e cabelo desfeito pelo deliberado desleixo. Os adultos não são
mais heróis e talvez nem às crianças seja permitida a inocência. Tudo pulsa, mas
nenhum coração bate. É um pistão metálico que impulsiona pra frente, e quem tem
tempo para pulsar? E no desespero desse mundo monocromático grita alto até a
garganta sangrar e os pulmões estourarem. Violenta também o paraíso sensorial
do seu ego sem aguentar a solidão que lá havia. Talvez o som do grito da dor
irrompesse as barreiras do mundo bom que só ela conhecia. Julgam-na como louca,
pecadora profana, sem saber que cometem todos os dias o crime de tentar ser
normal.
Extraído do blog PROFANO... INTRÍNSECO... ORGÂNICO... em um dia de chuva interna e extrena.
O sol brilha, mas a genialidade do texto ficou na minha cabeça.
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