sábado, 20 de abril de 2013

brings us close


Às vezes que queria saber por que eu ainda me lembro dela. Por que tão insistentemente dela. Queria saber por que dentre todas as outras só ela me vem tão frequentemente à cabeça. Mesmo que não mais de um jeito triste ou doloroso, mas ainda assim vindo. Queria saber o que aquela filha da puta tinha de tão especial pra se enterrar tão fundo assim no meu cérebro.Aquele jeito estranho e desengonçado, ela nem combinava comigo. Ela parecia um menino, ela me deixava cheirando a fumaça, ela era irritantemente subjetiva, ela me levava pro centro a pé pra fotografar, ela via beleza nos mínimos pontos de uma cidade cinza e podre. Ela dançava sem precisar de música, ela gostava de coisas que eu não conhecia, ela disse que eu ficava bem de xadrez. Ela ficava com as bochechas coradas. Ela sorria com a boca e com os olhos por trás daqueles óculos escuros nos domingos de manhã, com aqueles olhos de concha marinha que eu nunca vi igual, de um jeito que a gente achava que não ia ver uma coisa tão linda nunca mais na vida. Ela encostava a cabeça no meu ombro enquanto nós estávamos andando de um jeito que quase fazia nós dois cairmos abaixo; de um jeito que fazia a gente querer pegar ela no colo ali mesmo na rua, e não soltar nunca mais. Ela me chamava de lulis. E só tem ela no mundo que pode ser assim.
   Acho que não tem como a gente explicar esse tipo de coisa mesmo. Acho agora que não precisa também.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Felicidade gratuita


Me despedir.
E dos cheiros e vinhos, e cigarros, e taças a tinir, me afastar.
E dos boleros, e passos, das risadas, e piadas, lembrar.
Portas e mais portas, abrir.
E para uma noite ao teu lado, de incerto rumo, partir.
E luzes de postes e reflexos estranhos nos vidros, a passar.
Em casa (minha ou tua, não sei. Que seja nossa), chegar.
E ao teu lado, de mãos dadas, entrar.
 E ainda de mãos dadas, mas atrás de ti, para ver o movimento de quadris sob as sedas  do vestido.
Às escadas, subir.
Na beirada da Cama, sentar.
 E os sapatos apertados, sentindo vir o prazer gratuito contido nesses pequenos momentos, tirar.
Teu copo nu, apreciar.
E a doce maciez da tua boca, sorver.
E as álgidas curvas do teu corpo, tocar.
Teu ser e tua alma sem par, através dos olhos, percorrer.
E deitar sobre ti, e amar.
E sentir-te os dedos no leve toque às minhas costas, num fino limiar entre a dor e o prazer.
Gozar.
E o relaxar dos músculos, e o som entrecortado do nosso respirar conjunto, beber.
E juntos, trançados e entrelaçados, de corpos ainda conectados, teus olhos, mirar.
E de persona removida, olhar teus olhos frente aos meus, tua alma contemplar.
E dizer: como eu te amo.
E ouvir: como é bom te ter.
E depois das mais belas horas juntos, ainda entrelaçado entre os teus quentes braços, finalmente,
Dormir.

Sonhar...