Às vezes que queria saber por que eu ainda me lembro dela. Por
que tão insistentemente dela. Queria saber por que dentre todas as outras só
ela me vem tão frequentemente à cabeça. Mesmo que não mais de um jeito triste
ou doloroso, mas ainda assim vindo. Queria saber o que aquela filha da puta
tinha de tão especial pra se enterrar tão fundo assim no meu cérebro.Aquele
jeito estranho e desengonçado, ela nem combinava comigo. Ela parecia um menino,
ela me deixava cheirando a fumaça, ela era irritantemente subjetiva, ela me
levava pro centro a pé pra fotografar, ela via beleza nos mínimos pontos de uma
cidade cinza e podre. Ela dançava sem precisar de música, ela gostava de coisas
que eu não conhecia, ela disse que eu ficava bem de xadrez. Ela ficava com as
bochechas coradas. Ela sorria com a boca e com os olhos por trás daqueles
óculos escuros nos domingos de manhã, com aqueles olhos de concha marinha que
eu nunca vi igual, de um jeito que a gente achava que não ia ver uma coisa tão
linda nunca mais na vida. Ela encostava a cabeça no meu ombro enquanto nós estávamos
andando de um jeito que quase fazia nós dois cairmos abaixo; de um jeito que
fazia a gente querer pegar ela no colo ali mesmo na rua, e não soltar nunca
mais. Ela me chamava de lulis. E só tem ela no mundo que pode ser assim.
Acho que não tem
como a gente explicar esse tipo de coisa mesmo. Acho agora que não precisa também.
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