sábado, 6 de junho de 2015

Keep breathing (fly away)

Os olhos dela eram um sol castanho sobre aquela face marcada.
   O sol da tarde sobre o quarto escuro dava-lhes um toque líquido de âmbar, aquele toque que ele sempre procurava nas cores dos ermos que visitava dentro e fora de si. A cama se bagunçava e se remexia como um corpo vivo ao ritmo que eles bailavam em cima dela, pronta para voar pelo quarto, como um animal vivo e às pressas.os corpos de ambos in-distinguiam-se, como um polvo de muitos braços e pernas e sorrizos, todo a rasgar-se e acariciar-se, como se o mundo estivesse para acabar ali.o bronze dos cabelos dela emprestavam a luz que o quarto não tinha, aquecendo as paredes frias com aquele coração quente. Os olhos castanhos dele estavam fechados junto ao corpo esguio. Ele não precisava vê-la, por mais que a apreciasse. Ambos sabiam onde e como estavam, pois se amavam e se conheciam. E eram como espelho um para o outro. Um caleidoscópio de ruivos e castanhos, e cascas das árvores que eram, e pêlos e escamas dos monstros que guardavam debaixo da cama.
Eram livres no confinamento daquelas quatro paredes, pois suas mentes voavam por sobre os corpos, a lamber-se e beber-se um do outro, como era de seu costume. O cheiro de flor que brotava da alma dela atraía o pássaro que ele era, e as asas de pássaro encantavam aquela flor de timidez e rubridez que era parte dela. E assim eles seguiam amando-se. Sob aquela radiância que escapava deles, como dois sóis a atrair-se pela gravidade. Gravidade esta que não deixava-lhes separarem-se, orbitando juntos pelo firmamento do cotidiano de concreto cinza.E duplicavam-se as alegrias, e dividiam-se as tristezas, e mesmo em tempos de tempestade, mesmo quando queimavam-se um ao outro pelas intempéries, o calor era maior. E sempre seguiam-se e amavam-se. E isso tudo era bom. Tão bom.

Mas futuro põe à prova a gravidade sob o fio de uma lâmina. E eles desgarram-se a girar pelo espaço. Mas não mais frios não mais com medo, não mais sozinhos. Pois o Calor compartilhado não se espalha. E cada um mantém consigo o sol do outro(que é o outro) dento de si. E ela sabe que sob suas asas ela sempre possui refúgio. E ele segue com o perfume impresso no bico, grato por ter sido posto no caminho daquela flor, pois ela deu a ele o vislumbre do sol, como ele achou que já não existia, e segue de cabeça erguida, asas abertas Pois ele voa sabendo que com tudo de bom que ele carrega consigo, ele vai continuar respirando.

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